Mais de 1.800 professores foram demitidos em SP. No ES muitos vivem de faxina, entregas e doações.

Seis meses após a suspensão das aulas devido à pandemia, professores da rede privada de ensino em escolas e universidades foram demitidos em quantidades assustadoras. Segundo levantamento do Sindicato dos Professores de São Paulo, 1.809 profissionais foram cortados. A estimativa é a de que o número seja ainda maior, já que as rescisões homologadas no sindicato são apenas de professores com pelo menos um ano de casa.

Esse não é um fenômeno restrito a São Paulo: milhares de outros professores foram desligados de suas instituições de ensino em todo o Brasil e sem contabilizar todos os profissionais de educação que ficaram sem trabalho no mesmo período.

Cinco meses após a suspensão das aulas no Distrito Federal, 801 professores da rede privada de ensino foram demitidos na capital. De acordo com entidade que representa educadores, maior parte das demissões ocorreu no ensino infantil. Donos de escolas afirmam que foram atingidos por evasão e inadimplência. Além das 801 demissões, o sindicato dos professores formalizou ainda 1.280 reduções de jornadas de trabalho. De acordo com a entidade, elas ocorreram devido às mudanças nas escalas de profissionais e ainda a migração para atividades online.

Segundo reportagem da tribunaonline.com.br, professores em Vila Velha demitidos durante a pandemia vivem de faxina e doações. Foi na faxina que a professora Maria de Lurdes Machado, 58 anos, encontrou a solução diante do drama que vive desde o início da pandemia. “O dinheiro da rescisão não deu nem para pagar as dívidas”, ressaltou Maria. “Perdi meu pai, mãe e esposo há dois anos. Hoje, sou sozinha e agora vivo das poucas faxinas que faço e de doação de cesta básica”, relatou. A solução encontrada por muitos foi tentar tirar alguma renda com faxina e trabalho de motoboy. Outros simplesmente estão vivendo sem renda, dependendo apenas de doações.
 

“Muitos professores não concordaram com a redução brutal de carga horária e foram demitidos. Tem professor que tinha 40 horas-aula e que ficariam com 3 horas-aula. Alguns preferem não concordar e são demitidos, outros preferem se manter por causa do plano de saúde e preferem ter alguma redução de salário a não ter nenhum salário”, afirma Celso Napolitano, diretor do Sinpro.

“O que se discutiu muito é que as demissões foram em razão da pandemia, que havia evasão dos alunos, o que não representou uma verdade porque no mesmo momento em que estavam demitindo, estavam contratando novos professores, mas agora como PJ. Houve um aproveitamento da situação da pandemia. O ensino superior já vem em uma precarização e a pandemia veio como oportunidade para acelerar esse processo. Virou um modelo de negócios para investidores que estão preocupados com o lucro. Eles não estão interessados na educação”, lamenta o professor que prefere não se identificar.

“Foi humilhante. Quando fui entrar no site para lançar as notas apareceu a mensagem que eu estava dispensado. Foi uma forma grotesca e desonrosa, me senti humilhado e desprezado pelo tempo de trabalho. Tenho 71 anos e sempre fui um professor conhecido pela dedicação. Não faltava, era muito querido pelos alunos. Mas o tratamento que nos dão é de um número a mais. Eles sempre procuraram desprezar e não valorizar o professor. A missão que recebi de ensinar os alunos é o que me consola”, relata outro professor que prefere não se identificar foi demitido após quase 20 anos de trabalho.

Justificativas

Um das justificativas das instituições de ensino para as demissões e para a redução da carga horária de professores é a de que houve redução de alunos matriculados. Algumas faculdades sequer abriram processos seletivos para o segundo semestre. Além disso, as instituições de ensino argumentam aumento da evasão escolar e da inadimplência.

Outro problema identificado pelo sindicato é o uso de aulas gravadas por professores que foram demitidos e não possuem mais vínculos com a instituição. As aulas continuarão sendo usadas nos próximos anos para novas turmas.

O sindicato tem enfrentado dificuldades de levar adiante as denúncias. Já recorreu ao Ministério Público do Trabalho, que arquivou um dos casos.


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