"A gente quer mostrar pro jovem que é importante valorizar de onde veio, quem você é e para onde você quer ir. Isso faz com que você fique um pouco mais firme e saiba para onde quer ir. Se o jovem não tiver com o desenvolvimento do talento dele, que ele entenda que talento ele tem, não vai conseguir partir pro técnico"
"Por favor, me ajudem a voltar para o mercado de trabalho." Esbarrar com apelos como este do estudante de Direito Pedro Henrique Lima, de 24 anos, virou algo frequente para os usuários do LinkedIn. O crescimento deste tipo de publicação na rede, muitas vezes em tom de urgência e desespero, é sintoma do desemprego que atinge 14,4 milhões de brasileiros, segundo dados mais recentes do IBGE.
Plataforma que agrega muitos recrutadores e empresas, o LinkedIn acabou virando destinatário de muita gente que tenta conseguir emprego. Mas especialistas alertam: pedir uma vaga pode até fazer as pessoas se solidarizarem com sua busca, mas isso não quer dizer que você conseguirá a sonhada recolocação no mercado. É preciso saber usar a rede da melhor forma.
"Publicações com pedidos de ajuda, de auxílio e reclamações têm um engajamento muito grande na plataforma. As pessoas se identificam, mas isso não quer dizer que você atinge o resultado que deseja", pontua a mentora de carreiras Priscilla Couto, que integra o LinkedIn Top Voices Carreira, lista organizada pela própria rede com nomes que compartilham conteúdos e experiências sobre a área de recursos humanos.
A história da estudante de Gestão de Recursos Humanos Tainá Pena, de 18 anos, pode ser considerada um case de sucesso no uso da plataforma. Demitida do antigo trabalho e com receio de não conseguir pagar a faculdade por falta de condições financeiras da mãe, ela decidiu fazer uma publicação no LinkedIn contando sua história e falando sobre a necessidade de se recolocar no mercado. O post viralizou, teve mais de 900 mil visualizações e lhe rendeu dez entrevistas de emprego. Hoje, Tainá estagia na área de RH do Hospital Albert Einstein.
"Não foi nada intencional. Eu achei que esse post fosse chegar a 40 pessoas no máximo, até porque eu tinha umas 20 conexões na época. Eu tinha o LinkedIn por ter, não usava muito, não sabia mexer. Quando eu fui demitida, passei a ver posts no LinkedIn sobre a procura de emprego. A partir daí, eu decidi fazer um. Quem não chora não mama", conta a estudante.
No post, Tainá divide sua história de vida com os usuários, mas não deixa de mostrar suas qualificações profissionais. Conta que começou a trabalhar na feira aos 12 anos para ajudar os pais e que, aos 15 anos, passou a receber qualificação profissional em um instituto, o que lhe ajudou a conseguir um emprego como jovem aprendiz. Demitida, confidenciou não saber qual seria seu futuro, mas diz que não vai deixar a pandemia e o desemprego arrancarem "de mim o sonho de me formar".
Os motivos para o sucesso da publicação viraram objeto de análise entre recrutadores e até profissionais do marketing, como relata a estudante. "Um marqueteiro me chamou pra fazer reunião. Ele perguntou se eu já tinha estudado marketing e disse que eu mexi com o emocional e o profissional das pessoas. Ele disse que eu trouxe minha história de vida, mas minha formação, e que isso deu vontade de conhecer mais de mim. Ele falou que meu post deu força pra outras pessoas que estavam na mesma situação que eu, mas precisavam de inspiração para continuar lutando."
A coordenadora de Pessoas e Cultura da Companhia de Talentos, Carolina Martinez, corrobora a avaliação do marqueteiro. De acordo com ela, Tainá empregou bem dois elementos fundamentais para o LinkedIn, o visual e o textual. A postagem faz uso do vermelho e do azul, cores que chamam atenção do usuário, e traz uma foto em boa qualidade da estudante de recursos humanos. Por outro lado, a forma como ela conta a própria história traz um engajamento genuíno por parte dos seguidores.
"Ela foge das habilidades óbvias da área dela, quando usa bem os elementos visuais e textuais, mas mostrando que tem determinação, que tem vontade de fazer acontecer. Conhecimento técnico eu ensino. pago um curso de Excel, dou um jeito. Não é o que você sabe, mas como você se sobressai em situações adversas. Outra coisa muito simpática no post dela é o fato de ela se colocar nele. É um post que dialoga com você não pela forma como ela escreve, mas porque ela está nele", destaca Carolina.
Tainá também apostou na estratégia de engajamento ao pedir que as pessoas ampliassem o alcance da publicação com curtidas, compartilhamentos e comentários. "A tecnologia tira muito de um ser humano, mas não tira o coração. As pessoas podem mostrar mais o que têm no coração do que no currículo."
Comunicação, criatividade e resiliência
Para se colocar bem no LinkedIn, também é importante entender quais são suas melhores habilidades, não apenas do ponto de vista técnico, mas ter bem desenvolvidas também as chamadas soft skills, como comunicação, criatividade e resiliência, bastante visadas pelos recrutadores em processos seletivos. Para isso, no entanto, é preciso trabalhar a autoestima, muitas vezes em baixa entre pessoas há muito tempo na busca por emprego ou que vieram de situações de vulnerabilidade socioeconômica.
"A gente quer mostrar pro jovem que é importante valorizar de onde veio, quem você é e para onde você quer ir. Isso faz com que você fique um pouco mais firme e saiba para onde quer ir. Se o jovem não tiver com o desenvolvimento do talento dele, que ele entenda que talento ele tem, não vai conseguir partir pro técnico", afirma Wandreza Bayona, diretora executiva do Instituto Ser +, que fornece qualificação profissional para jovens entre 15 e 29 anos em situação de vulnerabilidade.
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Tainá passou pelo Ser+ e conta que sentia vergonha de sua história, por ter vindo de família pobre e precisar enfrentar os efeitos do racismo. "Eu consegui superar o pensamento de que minha vida era uma vergonha, de que como eu me vestia era uma vergonha, minha cultura era uma vergonha. Então fazer aquele post não era uma vergonha", conta.
"Vamos valorizar o passado, de onde você veio, de onde você é. Mesmo que sua história seja doída, talvez não muito feliz, você pode ter um potencial melhor do que um jovem que teve condições melhores que a sua", recomenda Wandreza.
Pedro Henrique Lima, que fez a publicação citada no início da reportagem, faz parte de um perfil que cresce dentro do LinkedIn: o de pessoas que, por causa do desemprego, passam a usar a rede para tentar um retorno ao mercado.
Globalmente, a plataforma percebeu um aumento maior na quantidade de usuários, principalmente depois da pandemia, quando o desemprego passou a fazer parte da realidade de milhões de pessoas ao redor do mundo. Em 2020, mais de 187 milhões de pessoas perderam seus postos de trabalho, número que deve chegar a 205 milhões até o fim de 2022, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Dados de 2021 fornecidos ao Estadão pelo LinkedIn mostram que 130 novos usuários entram na plataforma por minuto no mundo, sendo que quatro são contratados a cada 60 segundos. Também foi registrado um aumento de 35% nas conversas públicas neste ano em relação ao anterior. Em média, são registradas mensalmente 210 milhões de candidaturas para vagas de emprego abertas na rede.
Desempregado desde fevereiro deste ano, Pedro diz ter participado de várias seleções, mas não conseguiu a almejada vaga. Apesar de fazer faculdade de Direito, busca oportunidade em outras áreas, como a de auxiliar administrativo, por falta de espaço na sua. "Eu quero conseguir pagar minha faculdade."
A gestora de carreiras Priscilla Couto reforça, no entanto, que visibilidade não é sinônimo de contratação. "Você precisa aparecer para as pessoas certas. Quantidade não é qualidade. Normalmente, as empresas entram, deixam uma resposta automática no post. Você acaba tendo um engajamento vazio e uma falsa esperança que você está sendo visto", diz.
Confira dicas de como se posicionar melhor no LinkedIn:
Aumente a visibilidade do seu perfil
Ter uma boa foto de perfil é importante, já que ela é o cartão de visitas do seu perfil. Elementos como hashtags e marcação de empresas nas quais você esteja interessado em trabalhar podem aumentar o engajamento da sua publicação. "Ter uma foto de perfil convidativa é importante porque a foto de perfil vai viralizar com seu post. Diga também para o público o que eu quer que ele faça para ajudar: curtir, comentar, compartilhar", afirma Carolina Martínez.
Cuidado com o tom da postagem
Mostrar sua necessidade de emprego é importante e legítima, mas a forma usada para o pedido na publicação pode ser decisiva para você obter ou não uma vaga. "Posts com pedidos de emprego podem ter uma repercussão muito positiva, mas tem que ter cuidado para não se vitimizar, trazer uma carga negativa, as empresas não querem ver isso", lembra Carolina. Wandreza Bayona lembra: "O LinkedIn não é seu Facebook".
Saiba qual o perfil de empresa onde quer trabalhar
É importante entender sobre quais assuntos você consegue falar bem antes de postar no LinkedIn. Os recrutadores querem reconhecer em você alguém que tenha conhecimento e na sua área de atuação. "Quem fala sobre qualquer assunto não fala sobre nada. Na sua área de atuação, você precisa ser referência naquilo", lembra Priscilla Couto.
Ela destaca também que os recrutadores buscam cada vez mais o fit cultural, pessoas com similaridade de valores com determinada empresa. "Anteriormente, você tinha uma contratação por currículo. Hoje, a relevância disso é bem menor. Em uma entrevista, vou avaliar como você se posiciona, como você se coloca na hora de tomar suas decisões. O currículo fala sobre você até ontem. Quando a gente fala de LinkedIn, falamos do filme, a história completa. Ele fala de passado, presente e futuro."
Autoconhecimento é primordial
"O que quero trazer de diferencial para chamar atenção no meu post? Se eu quero falar de experiência de vida, o que eu tenho de experiência de vida que me diferencia? Qual minha melhor habilidade? Estou preparado para aquele cargo? Então aí você já vai criando estratégias de publicação", diz Carolina.
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